domingo, 7 de dezembro de 2008

Sem Sabor, Ninguém Comeria Carne

Sempre que entro em uma discussão (ou sou içado para dentro dela) sobre veganismo um dos argumentos mais ecoados pelos defensores do direito de comer carne é de que o prazer de comer um delicioso churrasco compensa a morte de qualquer animal, desde que seja uma morte sem sofrimento (claro que, assim como você, tenho uma vontade louca de aprofundar-me nessa idéia de “morte sem sofrimento”, mas tudo ao seu tempo). Mas até onde uma pessoa racional é capaz de sustentar essa afirmação?

Vejamos da seguinte forma:

Imagine por um momento que a carne fosse um produto ausente de qualquer sabor, insípido. De onde então partiria o impulso em consumir animais?
Da necessidade em absorver proteínas não, pois elas existem em incontáveis alimentos de origem não animal;
Por economia ou falta de espaço para produzir outros alimentos em um mundo super povoado tampouco, pois o espaço e o custo requeridos para alimentar a duas pessoas com derivados animais alimentariam “vinte” com produtos vegetais;
Pois sem o consumo de animais decretaríamos a extinção de várias espécies e o desequilíbrio da fauna e flora terrestre muito menos! Não comemos girafas para salvar-las e tão pouco o planeta está mais “equilibrado” depois que o ser humano tomou conta dele.

Então reflexione como seria se, em um mundo onde a carne não tivesse sabor e portanto, não haveriam animais sendo mortos para virar comida, alguém criasse um tempero que fizesse uma galinha ter um gosto atraente... Faria algum sentido começar a sacrificar galinhas para satisfazer um prazer que pode ser obtido sem esse abate?

Como uma pessoa normal veria a imagem de um músculo sobre seu prato?
A maioria das pessoas possui uma cortina de névoa em suas retinas que as faz esquecer que aquele pedaço de algo é o pedaço de alguém. Essa cegueira psicológica desaparece quando a pessoa começa a estudar mais a fundo sua relação com os animais, quando descobre os sabores da culinária vegana ou então pode acontecer em um insight (como foi para mim) sem nenhum aviso.

Seja como for, depois que deixamos de ver os animais como alimento, a idéia de matar um ser para sentir o seu gosto soa quase doentio.
Ainda que a dieta vegana não fosse tão rica em sabores e texturas, um instante de prazer, na boca de alguém, não justificaria uma morte.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Radicalismo é Fundamental

Radicalismo em muitos casos é fundamental.

Mas radicalismo não é fanatismo, são coisas muito diferentes.

Sou radicalmente contra estupro, radicalmente contra político corrupto e radicalmente contra dirigir embriagado.
Temos muitos radicalismos e, em determinados casos, não podemos deixar de definir de que lado estamos, pois ao ficar em cima do muro estaremos ajudando sempre o lado mais injusto.
É assim com as guerras, com a agressão ao oprimido e é assim com tudo o que diz respeito ao pensamento ecológico social.

Não pode dizer que se preocupa com o futuro da humanidade alguém que não se importa com o quanto polui seu carro, muito menos se reformar a cozinha com madeira contrabandeada pois é mais barato.

As pessoas dizem que acham um absurdo os EUA não respeitarem o Protocolo de Kyoto mas seguem jogando óleo de cozinha pela pia e consumindo carne de porco (responsável pela maior porcentagem de emissão de metano, mais prejudicial que o CO2 para a camada de Ozônio), se fossem radicais em sua opinião considerariam o veganismo como alternativa imprescindível.

O amor é um ato radical, ninguém ama de forma incompleta, pois aquele homem que diz amar, mas maltrata ou negligencia sua família na verdade o que sente é algo muito diferente de amor.
Quem diz que ama os animais, mas os come ou não se importa com sua exploração não está sendo coerente, no máximo os acha fofinhos e oportunos, mas amar... a quem amamos dedicamos a vida, não a ceifamos.

Eu observo cada coisa que consumo, roupas, comida e até cerveja (para meu espanto descobri que grande parte contém carne de golfinhos, baleias ou tubarão) e isso para mim é um prazer pois me satisfaz estar coerente com meus ideais, com minha opinião, da mesma forma como muitas mães gastam seu tempo olhando cada etiqueta de acolchoados para evitar comprar um que provoque alergia em seus filhos.
Não é tão difícil, tão pouco uma tortura.

Temos que mudar nossas vidas sim! Mudamos quando deixamos a casa dos pais, quando constituímos família e quando nos aposentamos. Para salvar este planeta temos que mudar também, e comprovadamente somos capazes, ao menos a maioria de nós.

E salvar o planeta significa salvar seu colega de faculdade, sua irmã, seu neto que vai passar pelas mesmas ruas que você e, com sorte, banhar-se nos mesmos lagos... Significa salvar aquele velho amigo que você nem chegou a conhecer ainda, mas que se tudo der certo, ainda será alguém muito importante na sua vida.

Eu sei que todos temos coisas importantes pra fazer e todos merecemos momentos de ócio, mas ainda assim, mesmo a pessoa mais importante da face da terra (e muito mais essa) dedicaria todo o tempo que pudesse para transformar sua vida, fazer dela melhor e mudar o destino triste a que estamos fadados se não houverem transformações "radicais" ainda nos próximos 5 anos.

Pois o planeta que nos serve de casa, sem uma reavaliação dramática na forma como exploramos a natureza e seus habitantes, não será nada amistoso, agradável e prazeroso em 2060... apenas cinqüenta anos a frente.

Acredite radicalmente nisso.